“Future-se”, e o Brasil pro beleléu

O projeto future-se, do Ministério da Educação, segundo a propaganda oficial, teria a finalidade de dar maior autonomia às Universidades Públicas. Ora, pois, não é por autonomia que clamamos? Pois tomem autonomia, ao menos no sentido que o ministro Abraham Weintraub entende, ou seja, a autonomia prevista no “future-se” estabelece que as universidades possam buscar recursos com entidades privadas, que vendam pesquisa e que assim se vendam.

A inspiração do ministro vem das Organizações Sociais [OS], entidades privadas com personalidade jurídica sem fins lucrativos, que recebem subvenção do Estado para prestar serviços públicos. Testadas em São Paulo pelo governo de Mário Covas e no Rio de Janeiro pelo prefeito Eduardo Paes, não deram certo. Weintraub agora quer ressuscitá-las, inclusive possibilitando com essa “autonomia” que as universidades possam cobrar mensalidades e deixar de realizar concursos públicos, contratando os seus docentes e técnicos administrativos por intermédio de firmas particulares, a exemplo do que se faz, em muitos casos, nos Estados Unidos.

Claro que o leitor já percebeu que o “future-se” é, na verdade, a terceirização do ensino e a privatização das universidades brasileiras. Além disso, contratar docentes sem concurso público significa homogeneizar ideologicamente a universidade, porque pelos concursos avalia-se o conhecimento técnico dos professores, não a sua ideologia e, por isso, a universidade é rica pela pluralidade de ideias e pela diversidade que existe em suas fileiras.

É uma falácia dizer que as universidades são centros de esquerdistas e comunistas, na verdade a predominância é de professores com ideais de direita. Afirmação que posso fazer de cátedra pelos longos anos que frequentei a atual UFGD na qualidade de professor e pela realização de mais de uma dezena de cursos que frequentei na USP.

A Universidade pública brasileira é a maior produtora de pesquisas no Brasil: cerca de 98% das pesquisas científicas realizadas em nosso país saem de seus laboratórios. Sucatear as nossas universidades é sucatear o país. E, sejamos realistas, quem produz o conhecimento é quem tem melhores condições de administra-los aos seus alunos. Universidades que só reproduzem o conhecimento produzido em outros centros podem até graduar bons técnicos, mas têm dificuldades enormes para formar cientistas, dos quais o Brasil tanto precisa.

Defender a Universidade Pública, portanto, significa defender o próprio país. E essa história de que quem tem dinheiro pode cursar as Universidades Públicas e quem não tem que fique de fora, não é somente uma falta de visão de construirmos uma sociedade mais igualitária, mas principalmente, uma ideia distorcida e obscura, pois não é somente dos abastados financeiramente que nascem os grandes cientistas, mas também dos mais pobres que são até mesmo mais obstinados na busca de novas alternativas de vida e de futuro para o seu país.

Mais de 40 universidades brasileiras já disseram não ao “future-se”, talvez dirão “sim” apenas aquelas em que os reitores foram nomeados arbitrariamente: Jair Bolsonaro já desrespeitou as comunidades universitárias nomeando oito reitores que não venceram as eleições, inclusive alguns que sequer participaram da lista tríplice, como é o caso da UFGD.

Desde Fernando Henrique, portanto há mais de vinte anos, os governantes brasileiros nomeavam sempre o mais votado para a reitoria [conheço uma única exceção com FHC]. Mas atualmente a truculência de Bolsonaro e a incrível falta de republicanismo de alguns políticos levam a essas arbitrariedades e, infelizmente, estamos passando por outros sérios problemas que levam ao desmonte das universidades públicas, com novas normas que inviabilizam diretrizes anteriores. Um exemplo, dentre tantos: havia uma planilha para a distribuição das vagas dos docentes pelas universidades de tal modo que a reposição de professores falecidos ou aposentados era automática, o que deixou de existir, dando, portanto, ao MEC a possibilidade de redistribuir essas vagas apenas para os reitores que leem em sua cartilha privatista.

No caso de Dourados, pensar que foram 25 anos de lutas para conseguirmos a UFGD e agora a vermos sob intervenção e corrermos o risco de vê-la privatizada, é dolorido demais.

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